sexta-feira, 4 de julho de 2008

Existe guerra por água ?


Água será motivo de guerra no futuro
Já temos motivos e tecnologia para economizar água, só falta atitude.

Cada brasileiro gasta, em média, 200 litros de água por dia - um volume cinco vezes maior que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Talvez essa falta de preocupação se deva ao fato de determos 12% da água doce mundial e um dos maiores aqüíferos do planeta, o Guarani. Isso gera a falsa imprssão de que não precisamos economizar água e, assim, podemos deitar e rolar no desperdício. Segundo a empresa de consultoria especializada em uso racional de água, H2C, cada brasileiro deveria consumir, no máximo, 40 litros de água por dia. E não os 200 litros atuais. Em entrevista ao casa.com.br, o engenheiro especialista em uso racional da água da H2C, Carlos Lemos da Costa, mostrou como e por quê economizar água.
A tecnologia para poupar água tem evoluído?
A maior evolução que tivemos em termos de economia de água foram os vasos sanitários que gastam 6 litros por descarga. Os vasos antigos consumiam de 12 a 15 litros por descarga. Em 2003, um acordo com indústrias brasileiras tornou obrigatória a fabricação de novos vasos, o que representou uma grande economia. Num prédio comercial, por exemplo, a água consumida nas descargas representa de 50% a 70% do consumo total de água do prédio.
Existe um preconceito contra aparelhos que economizem água?
Não vejo esse preconceito. No caso do vaso sanitário, ele não mudou de cara, a única mudança foi feita no sifão interno. O que existe é falta de incentivo para as pessoas adotarem aparelhos mais econômicos. Nos EUA, o governo pagou para as pessoas trocarem o vaso sanitário por modelos mais econômicos. Em 3 anos substituíram 1,3 milhão de vasos e economizaram 260 milhões de litros de água por dia. Essa medida evitou que precisassem construir um novo reservatório a longa distância - que demanda gastos para transportar água e tratar o esgoto. Também nos Estados Unidos temos como exemplo os chuveiros, com vazão de 10 litros por minutos. No Brasil essa vazão pode chegar a 30 litros.
Se existem meios tecnológicos para poupar água, o que está faltando?
Mais importante que os aparelhos para poupar energia, é preciso ter atitude: fechar a torneira na hora de escovar os dentes ou fazer a barba, tomar banhos de cinco minutos e fechar a torneira enquanto se ensaboa, deixar a louça de molho antes de lavá-la, usar a máquina de lavar roupas só quando estiver cheia, etc. Mas, para isso, é preciso um trabalho de conscientização. A Agência Nacional da Água, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, tem um programa que deve implantar ainda esse ano nas escolas para ensinar as crianças como economizar água.
E em termos de medidas governamentais, o que poderia ser feito?
O uso de hidrômetros individuais deveria ser obrigatório nos edifícios, diferente do modelo em que a conta é dividida por igual entre todos os moradores do prédio e ninguém se sente motivado a economizar água. Também teria que haver sistemas de coleta de água de chuva para utilizar em torneiras e vaso sanitários e criar um tratamento do esgoto para que a água pudesse ser reutilizada. Não descarto, ainda, a possibilidade de aumentar a conta de água, o que faria as pessoas pensarem mais antes de desperdiçar.
A culpa da crise de água é só do desperdício dos cidadãos?
De forma alguma. A agricultura consome 70% da água doce disponível no Brasil. Temos que produzir mais alimentos com menos água, o que seria possível se utilizássemos o gotejamento, sistema de molhar as plantas direto na raiz em momentos menos quentes do dia, em vez de aspersão, que irriga as plantas em abundância, mas perde muita água por evaporação. Além disso, os encanamentos de São Paulo que servem as residências têm uma perda de água estimada de 30% a 40%. É preciso tomar atitudes para reverter essa perda.
Se o consumo de água no Brasil permanecer exatamente do jeito que está hoje, quais serão as conseqüências no futuro?
Alguns estudos já apontam que, em 2025, teremos uma crise muito séria mundial de água. Hoje em dia, cerca de 500 milhões de pessoas morrem por ano por problemas de água, em 2050 esse número pode chegar a 4 bilhões. Acredito que o petróleo deixará de ser o pivô das grandes guerras. Os países vão guerrear por causa de água.

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